
Poucas coisas na vida são mais reconfortantes do que uma boa refeição, daquelas com gostinho de infância, para relaxar após um dia de trabalho puxado, quando você só precisa se sentir acolhida, abraçada… Nossa relação com o alimento, no entanto, vai muito além. Não está apenas na nossa memória afetiva, mas também nas nossas relações sociais (quase sempre a desculpa para encontrar alguém é comer ou beber alguma coisa), na identidade cultural dos povos. Através da culinária podemos identificar claramente uma região ou um país. Basta falar macarronada, burrito, sushi ou acarajé que imediatamente nos vem um lugar à mente. Como é possível então que o alimento, algo tão importante nas nossas vidas, na história dos povos, possa ser tão negligenciado quanto na nossa cultura atual? Como é possível abrir mão deste afeto, deste momento tão precioso como se faz hoje com tanta frequência? Quanto afeto vem embalado para viagem na mochila do entregador ou na fila do drive-thru?

Vivemos hoje num ritmo acelerado, e nos acostumamos a não esperar por mais nada, nem pela foto que não precisa mais ser revelada, pelo cartão postal do amigo que foi viajar (ele vai postar tudo no insta!), pelo encontro com os parentes distantes, que agora “encontramos” de forma virtual, ou pela comida, que tem que chegar quentinha, só precisa desembalar. Mas o que é grave nisso é que sempre encontraremos empresas prontas para nos entregar essa comodidade, disputando clientes nos centavos, iniciando um ciclo geralmente perverso, pois em busca de competitividade, essas empresas buscarão reduzir seus custos. No caso dos serviços de delivery, é fácil notar os impactos em termos de trânsito, poluição do ar e sonora dos escapamentos das motos, e a imposição de condições nem sempre favoráveis aos seus colaboradores, em especial, entregadores.

Abrimos mão da nossa relação com o alimento em troca de maior comodidade, para poupar um tempo que estamos dedicando a qualquer outra coisa, como mais um curso no currículo, mais horas no trabalho, ou até para podermos assistir mais um episódio daquela série no Netflix. Mas calma, é claro que todos temos aqueles dias em que não queremos nem olhar pra cozinha e apenas curtir uma pizza no sofá assistindo…séries! Adoro! Contudo, assusta perceber que ao digitar no Google a palavra “comida” as primeiras ocorrências sejam de serviços de entrega, ou ao sair à rua, seja qual for a hora do dia ou o dia da semana, vermos tantos motoqueiros com suas mochilas térmicas se espremendo entre os carros para ganhar alguns minutos na próxima entrega.

Outro ponto é quanto ao volume de lixo gerado pelas embalagens utilizadas para entrega, sachês de condimentos, talheres plásticos e outros. Já em relação aos produtos, no caso os pratos, vale a mesma regra de redução de custos, uma lógica natural de negócios, mas que acaba favorecendo os grandes produtores, em detrimento dos produtores locais, o que tem um impacto social negativo, e um último ponto é o estímulo à utilização de técnicas produtivas que nem sempre prezam pelo meio ambiente, no caso do uso excessivo de agrotóxicos na lavoura, de crueldade no confino e abate de animais, na utilização de ingredientes químicos como emulsificantes, espessantes, corantes e conservantes nos alimentos, e por aí vai. Ou seja, nossa pressa tem um custo, e não é baixo. Mas se você está se perguntando por que estamos falando em comida aqui na Omerah, não deixe de ler nosso próximo post. Acredite, tem tudo a ver 🙂